terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Vater und Sohn/ Pai e filho.*

Ein einziges Abstandhalten
und Beieinanderstehn
mit schlenkernden Armen.
Der Vater die Uniform,
der Sohn mit den Rastazöpfen
Der Vater im Rucksack Preußen,
der Sohn auf dem Surfbrett
zur Mündung der Flüsse hinaus.
Der Vater auf Reisen,
der Sohn die innere Emigration.
Der Vater die Briefe
der Sohn schweigt.
Vater, ders locker nimmt,
Sohn zu dem Herzen.
Einander Kampf ohne Regel,
ernster als auf dem Spielplatz je,
länger als lebenslang,
Nie sterben die Väter,
hört man, seit Ohren sind,
und selten leben die Söhne.
Uwe Kolbe.

Mantendo a distância
e a proximidade
com braços a abanar.
O pai, o uniforme
o filho com rastas no cabelo.
O pai com a Prússia na sua sacola,
o filho com a prancha de Surf,
em direcção à foz do rio.
O pai em viagem,
o filho em migração interna.
O pai, as cartas
o filho sem falar.
Pai que leva tudo a bem,
filho que leva tudo a peito.
Lutando sem regras,
mais seriamente que nunca, no parque,
em luta mais longa que a vida.
Os pais nunca morrem,
ouve-se, desde que os ouvidos existem,
e raramente vivem os filhos.

Uwe Kolbe.

(Não sei se a tradução está bem feita. Se os "experts" aqui em Alemão puderem rever, agradecia.) :)

Kurt Tucholsky: Augen in der Grossstadt

Kurt Tucholsky
Augen in der Großstadt

Wenn du zur Arbeit gehst
am frühen Morgen,
wenn du am Bahnhof stehst
mit deinen Sorgen:
da zeigt die Stadt
dir asphaltglatt
im Menschentrichter
Millionen Gesichter:
Zwei fremde Augen, ein kurzer Blick,
die Braue, Pupillen, die Lider -
Was war das?
vielleicht dein Lebensglück...
vorbei, verweht, nie wieder.

Du gehst dein Leben lang
auf tausend Straßen;
du siehst auf deinem Gang, die
dich vergaßen.
Ein Auge winkt,
die Seele klingt;
du hast's gefunden,
nur für Sekunden...
Zwei fremde Augen, ein kurzer Blick,
die Braue, Pupillen, die Lider -
Was war das? Kein Mensch dreht die Zeit zurück...
Vorbei, verweht, nie wieder.

Du mußt auf deinem Gang
durch Städte wandern;
siehst einen Pulsschlag lang
den fremden Andern.
Es kann ein Feind sein,
es kann ein Freund sein,
es kann im Kampfe dein
Genosse sein.
Er sieht hinüber
und zieht vorüber ...
Zwei fremde Augen, ein kurzer Blick,
die Braue, Pupillen, die Lider -
Was war das?
Von der großen Menschheit ein Stück!
Vorbei, verweht, nie wieder.


Kurt Tucholsky
Olhos na cidade

Quando vais para o trabalho
cedo de manhã,
quando estás na estação
com as tuas preocupações:
a cidade apresenta-te
plano como a asfalto
o funil humano
milhares de caras:
Dois olhos desconhecidos, um curto olhar,
a sobrancelha, pupila, as pestanas -
Que foi isso? Se calhar a sorte da tua vida...
passou,voou, nunca mais.

Andas a tua vida inteira
por mil estradas;
tu vês no teu caminho, aqueles
que te esqueceram.
Um olho acena,
uma alma soa;
tu encontras-te,
só para segundos...
Dois olhos desconhecidos, um curto olhar,
a sobrancelha, pupila, as pestanas -
Que foi isso? Ninguém dá para trás ao tempo...
Passou, voou, nunca mais.

Tu tens no teu caminho
de passar por cidades;
vês por uma pulsação
o outro desconhecido.
Pode ser um inimigo,
pode ser um amigo,
pode ser numa luta
o teu parceiro.
Ele olha para ti
e passa...
Dois olhos desconhecidos, um curto olhar,
a sobrancelha, pupila, as pestanas -
Que foi isso?
Da grande humanidade um pedaço!
Passou, voou, nunca mais.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Nobody Home / Ninguém em Casa

NOBODY HOME


I suppose the mirror told you
That I was alive if you can call
This living. You were the last
Person that I was expecting.

I wonder whose heart he brought home
And what heroic story he spun.
Did he meet some poor peasant
On the forest path and wait
Until her back was turned or did he find
Something that was already dead and hack
Its heart out, puking everywhere, and
Thanking God that his hands were clean
And his conscience as clear as spring water
As if he hadn’t already fucked me over
By leading me into this foul, dark place?

I’ll bet he turned as pale as a geisha girl
When the mirror gave us both away.
Ha bloody ha – how did he dig himself
Out of that great big hole?

And I don’t much care that you’re at my door
Hammering like a fiend at the wood
With a knife in your hand instead
Of the nice, juicy apple and seven little men
And my prince dead in your wake.
You’re wasting your breath. There’s
Nobody home. Take a walk across the lawn,
Look in the lovely glass-house. Look
At all the flowers and cards my mourners left
Before you so rudely slaughtered them.
And for God’s sake, shut up.
My dreams are so sweet now.
I think I have earned my eternal rest.


Tracey Herd



NINGUÉM EM CASA

Suponho que o espelho te disse
Que eu estava viva se podes chamar
A isto de viver. Tu eras a última
Pessoa que eu esperava.

Pergunto-me de quem era o coração que ele trouxe para casa
E que história heróica ele teceu.
Terá ele encontrado alguma camponesa pobre
No caminho da floresta e esperado
Até que estivesse de costas ou terá ele encontrado
Algo que já estava morto e arrancou-lhe
O seu coração, vomitando em todos os sítios, e
Agradecendo a Deus por as suas mãos estarem limpas
E a sua consciência tão clara como a água primaveril
Como se ele já não tivesse dado cabo de mim
Ao guiar-me até este lugar sombrio e obsceno?

Eu aposto que ele ficou tão pálido como uma rapariga gueixa
Quando o espelho nos denunciou aos dois.
Ah maldito ah – como é que ele cavou até sair
Daquele buraco imenso?

E eu não me importo muito que tu estejas à minha porta
Martelando como um demónio na madeira
Com a faca na tua mão ao invés
Da bonita, sumarenta maçã e sete anões
E o meu príncipe morto no teu acordar.
Estás a perder o teu tempo. Não está
Ninguém em casa. Dá um passeio pelo
relvado,
Olha para a encantadora casa de vidro. Olha
Para todas as flores e cartões que os que me choram deixaram
Antes de tu tão rudemente os assassinares.
E pelo amor de Deus, cala-te.
Os meus sonhos são doces agora.
Acho que fiz por merecer o meu descanso eterno.


Tracey Herd

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Was an dir Berg war / O que era montanha em ti

Was an dir Berg war
Haben sie geschleift
Und dein Tal
schuettete man zu
Ueber dich fuehrt
ein bequemer Weg . . .

O que era montanha em ti
foi limado
e os teus vales
foram preenchidos
Agora é um caminho confortável
que passa por cima de ti
Bertold Brecht

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

In this I believe/ No que acredito.

«I am a child of revolution — alas, not of the flower power variety, but of turban power. I grew up with absolutes: Love the king, down with the king, love the imam. Walking to school in 1980s Tehran amid slogans sprayed on walls and billboards, I remember this early belief, or rather, a child's sense of what would eventually become a belief: We all want to prove we exist.

Much is driven by this desire. Nations are built, wars are fought, gangs are formed, political parties are born. Personal actions, too — smaller and more delicate — follow suit: Mortgages are signed, marriage contracts sealed, birth certificates filled in, death certificates handed out. Comfort comes through the signature on the dotted line. Some even take their earthly paraphernalia — a grandfather's watch, a favorite hat, a love poem — to their graves, foolish but affecting codas to soon-to-be forgotten lives.

Of course permanence is an illusion. Borders shift, fortunes fall, colors fade, lovers drift, spouses hang by the thread of that dotted line. What once seemed vital gets forgotten.

As a teen I carried Nausea by Sartre everywhere I went, until I actually began to feel nauseated and returned it to the library, unfinished. Existential nihilism, I decided, was not for me. What I came to believe, as the years progressed, was that the desire to affirm one's existence is not in itself foolish; the desire to do so through permanence is. I find beauty in life's ephemera, though like most people I am afraid of loss and endings.

Still, despite the only certitude I have — the knowledge that I will die — I find pleasure and love, if not meaning. Often, this happens when an experience evokes an unbroken joy — a ray of light beaming into a warm room on a winter morning, the uninterrupted presence of someone I love next to me, and things, less concrete — a memory, a song, a word.

In his Myth of Sisyphus Albert Camus likens our absurd existence to the fate of the Greek mythological figure, whose task was to push a rock up a mountain, watch it roll down, only to begin again, fully aware of the futility of his condition. Camus concludes that "the struggle itself toward summits is enough to fill a man's heart. One must imagine Sisyphus happy."

Like Sisyphus, I get up every morning, grab a cup of coffee, and sit at my desk. I stare at the lines from the poem "Tobacco Shop" by Fernando Pessoa, pasted on my wall. Pessoa writes:

But the Tobacco Shop owner has come to the door and stands there.
I look at him, straining my half-turned neck,
Straining my half-blind soul.
He'll die and so will I.
He'll leave his signboard, I'll leave poems.
A little later the street will die where his signboard hung,
And so will the language my poems were written in.

I begin writing and I think, "Yes, dear Fernando, but so what? My lines exist for now, not even, mind you, in my original language, which has not yet vanished, but no doubt will in my bloodline." And if I were not overly concerned with the hazards of smoking, I would light up a cigarette. »

Dalia Sofer.


«Sou uma filha da revolução – infelizmente, não do tipo “flower power”, mas do poder do turbante. Cresci com absolutos: Ama o rei, abaixo o rei, ama o Imã. Lembro-me, ao fazer o caminho para a escola na Teerão dos anos 80 por entre slogans espalhados por paredes e cartazes, da crença primitiva, ou melhor, do sentimento infantil do que, eventualmente, se tornaria uma crença: Todos queremos provar que existimos.

Muito é guiado por este desejo. Nações são construídas, guerras são travadas, uniões são formadas, partidos políticos nascem. Acções individuais, também – pequenas e mais delicadas - seguem o mesmo caminho: hipotecas são assinadas, contractos de matrimónio selados, certificados de nascença preenchidos, certificados de morte distribuídos. O conforto vem da assinatura no picotado. Alguns levam até a sua parafernália – um relógio da avó, o chapéu favorito, um poema de amor – para as suas sepulturas, tontos mas pontos finais em vidas para rapidamente serem esquecidas.

Claro que a permanência é uma ilusão. Fronteiras mudam, fortunas caem, cores desvanecem, esposas aguentam pelo fio desse picotado. O que certo dia pareceu vital é esquecido.

Em adolescente, andava com A Náusea de Sartre para todo o lado, até que comecei a sentir-me nauseada e entreguei-o de volta à livraria, por acabar. O niilismo existencialista, decidi, não era para mim. O que acabei por acreditar, com o passar dos anos, foi que o desejo de afirmar a existência de alguém não é totalmente desprovido de sentido; o desejo de o fazer pela permanência, sim. Vejo beleza na efemeridade da vida, apesar de, como maior parte das pessoas, ter medo da perda e de finais.

Ainda assim, apesar da única certeza que tenho – a certeza de que irei morrer - encontro prazer e amor, se não sentido.
Não raras vezes, isto acontece quando uma experiência evoca uma felicidade inquebrável - um raio de luz brilhar num quarto quente numa manhã de Inverno, a ininterrupta presença de alguém que amo perto de mim e coisas menos concretas – uma memória, uma música, uma palavra.

No seu Mito de Sísifo, Albert Camus compara a nossa absurda existência ao destino da figura mitológica grega, cuja tarefa era empurrar uma pedra acima de uma montanha, vê-la descer, para começar novamente, completamente consciente da futilidade da sua condição. Camus concluía que " A luta em si, para atingir um objectivo é suficiente para preencher o coração do Homem. Devemos imaginar Sísifo feliz.”

Como Sísifo, levanto-me todas as manhãs, bebo um café, e sento-me na minha secretária. Fixo os versos do poema “A Tabacaria” de Fernando Pessoa, colados na minha parede. Pessoa escreve:

Mas o dono da Tabacaria veio à porta e ficou lá.
Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada,
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, e eu deixarei poemas.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.

Começo a escrever e penso, “Sim, querido Fernando, e então? As minhas linhas existem por agora, nem sequer, vê bem, na minha língua original, que ainda não desapareceu, mas, sem dúvida, irá na minha geração.” E se não estivesse demasiado preocupada com os perigos de fumar, acenderia um cigarro.»

Dalia Sofer.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Tabacaria - Álvaro de Campos


I’m nothing.
I won’t ever be anything.
I can’t wish to be anything.
Besides that, I’ve got in me all the dreams of the world.


Windows of my room,
Of my room of one of the millions in the world that no one knows who it is
(And if they knew who it is, what would they know?),
You open up to the mystery of a street constantly crossed by people,
To a street inaccessible to all thoughts,
Real, impossibly real, certain, unknowingly certain,
With the mystery of the things underneath the stones and the beings,
With death putting humidity in the walls and in the men’s white hairs
With Destiny driving the wagon of everything through the road of nothing.

Today I’m defeated, as if I knew the truth.
Today I’m discerning, as if I was to die,
And I had no more brotherhood with things
Than a goodbye, becoming this house and this side of the street
The row of carriages of a train, and a whistled departure
From inside my head,
And a shaking of my nerves and a creaking of bones in the going.

Today I’m astonished, as who thought and found and forgot.
Today I’m divided between the loyalty I owe
To the Tobacco Shop from the other side of the street, as a real thing on the outside,
And to the feeling that everything is a dream, as a real thing on the inside.

I failed in everything.
As I made no purpose, maybe everything was nothing.
The learning I was given,
I went down on it through the window in the back of the house.
I went to the countryside with great purposes.
But there I only found lawns and trees,
And when there were people they were the same as the others.
I step aside from the window, sit on a chair. In what should I think?

What do I know of what I’ll be, me who doesn’t know what I am?
Being what I think? But I think so many things!
And there are so many that think they are the same thing that there can’t be that many!
Genius? In this moment
A hundred thousand brains conceive themselves as genius in dreams as I,
And history won’t mark, who knows?, not even one,
Nor there’ll be anything but manure of so many future conquests.
No, I don’t believe in me.
In every lunatic asylum there are crazy lunatics with so many certainties!
I, that have no certainties, am I righter or less right?
No, not even in me…
In how many attic windows and non-attic windows of the world
Aren’t at this time geniuses-to-themselves dreaming?
How many high and noble and lucid aims –
Yes, truly high and noble and lucid -,
And who knows if achievable,
Will never see the light of the real sun nor find people’s ears?
The world is for the ones that are born to conquer it
And not for the ones that dream they can conquer it, even if they are right.
I’ve dreamt more than what Napoleon did.
I’ve squeezed to the hypothetical chest more humanities than Christ,
I’ve made more philosophies in secret than any Kant has written.
But I am, and maybe I’ll always be, the one of the attic window,
Even though he doesn’t live in it;
I’ll always be the one who wasn’t born for it;
I’ll always be only the one who had qualities;
I’ll always be the one, who waited for the door to be opened by a wall without a door,
And sang the chant of Infinite in a hencoop,
And heard the voice of God in a covered well.
To believe in me? No, nor in anything.
Spill the Nature over my fiery head
Its sun, its rain, the wind that finds my hair,
And that the rest comes if it comes, or has to come, or that it doesn’t come.
Cardiac slaves of the stars,
We conquer all the world before getting out of bed;
But we wake up and it is cloudy,
We get up and it is not ours,
We leave the house and it is the whole earth,
Plus the solar system and the Milky Way and the Undefined.

(Eat chocolates, little girl;
Eat chocolates!
See that there’s no more metaphysics in the world than chocolates.
See that all the religions don’t teach more than the confectionery.
Eat, dirty little girl, eat!
Could I eat chocolates with the same truth that you do!
But I think and, while taking off the silver paper, that is of tin leave,
I throw all to the ground, as I’ve been throwing life).

(You that comfort, that do not exist and there for comfort,
Or Greek goddess, conceived as statue that was alive,
Or roman compatriot, impossibly noble and causer of disgrace,
Or princess of singing poets, so gentle and colorful,
Or celebrated cocotte from the time of our fathers,
Or I don’t know what modern – I can’t really envision what –
All of that, whatever it is, that you be it, if it can inspire that inspires!
My heart is like an emptied bucket.
As the ones who invoke spirits invoke spirits I
Invoke myself and I find nothing.
I get to the window and see the street with an absolute clarity.
I see the stores, see the walkway, see the cars that go by,
See the dressed living beings that meet,
See the dogs that also exist,
And all of this weighs on me like a conviction to banishment,
And all of this is foreign, as everything.)

I lived, studied, loved and even believed,
And today there’s not a beggar that I don’t envy just for not being me.
I look at the tatters of each of them and the wounds and the lie,
And I think: maybe you’d never live nor study nor love nor believe
(Because it is possible to make reality of all of it without doing any of it);
Maybe you just existed, as a lizard whose tail is cut off
And that it is tail beyond the lizard rummagedly

I made of me what I didn’t know
And what I could have made of me I didn’t.
The garments I put on were wrong.
They knew me at once for who I wasn’t and I didn’t contradict it, and I got lost.
When I wanted to take the mask off,
It was stuck to the face.
When I took it off and saw myself in the mirror,
I’d gotten old.
I was drunk, I already didn’t know how to dress the garments I hadn’t taken off.
I threw away the mask and slept in the dressing room
As a dog tolerated by the management
For being harmless
And I’ll write this story to prove that I’m sublime.

Musical essence of my useless verses,
I wish I’d find myself as something I’d do,
And didn’t always stay in front of the Tobacco Shop ahead
Putting on my feet the consciousness of existing,
As a carpet in which a drunk stumbles over
Or a rug that the gypsies stole and was worth nothing.

But the owner of the Tobacco Shop came to the door and stayed at the door.
I stare at him with the upset of the badly turned head.
And with the upset of the soul misunderstanding.
He will die and I will die.
He’ll leave the sign, I’ll leave the verses.
At a given point the sign will also die, so as the verses.
Then at a certain point the street where the sign was will die,
And the tongue in which the verses were written.
Then the spinning planet in which all of this happened will die.
In other satellites of other systems something as people
Will keep on making things like verses and living underneath things like signs,

Always one thing in front of the other,
Always one thing as useless as the other,
Always the impossible as stupid as the real,
Always the mystery of the bottom as certain as the sleep of mystery of the surface,
Always this or always other thing or neither one nor the other.

But a man entered the Tobacco Shop (to buy tobacco?)
And the plausible reality falls over me all of a sudden.
I semi rise energetic, convinced, human,
And I’ll intend to write these verses in which I say the opposite.


I light a cigarette while thinking about writing them
And I taste in the cigarette the liberation of all thoughts.
I follow the smoke as a route in itself,
And I enjoy, in a sensitive and competent moment,
The liberation of all speculations
And the conscience that metaphysics is a consequence of being in a bad mood.

Then I lay back on my chair
And I keep smoking.
While the Destiny allows it to me, I’ll keep on smoking.

(If I married my laundrywoman’s daughter
Maybe I’d be happy.)
This being seen, I get up from the chair. I go to the window.
The man has left the Tobacco Shop (putting the change in the trousers’ pocket?)
Ah, I know him; it’s Esteves without metaphysics.
(The owner of the Tobacco Shop came to the door.)
As for a divine instinct Esteves turned around and saw me.
He waved goodbye, I screamed Goodbye Esteves!, and the universe
Rebuilt itself to me without ideals nor hopes, and the owner of the Tobacco Shop smiled.


The original can be found at: http://www.insite.com.br/art/pessoa/ficcoes/acampos/456.html





P.S.: I'm aware there could some mistakes in the translation. It is a very complicated piece of writing in its original version, what makes it even harder to translate it. Plus, I'm not a professional translator, not yet.
So my apologies for the possible mistakes.

domingo, 4 de janeiro de 2009

I am the escaped one / Eu sou o fugitivo*

I am the escaped one

I am the escaped one,
After I was born
They locked me up inside me
But I left.
My soul seeks me,
Through hills and valley,
I hope my soul
Never finds me.


Eu sou o fugitivo

Eu sou o fugitivo
Depois de ter nascido
Fecharam-me dentro de mim.
Mas eu fugi.
A minha alma procura-me
Por montes e vales.
Espero que a minha alma
Nunca me encontre


Fernando Pessoa

*versão original em inglês

Ideal und Wirklichkeit / O ideal e a realidade

Kurt Tucholsky, Berlin 1922


In stiller Nacht und monogamen Betten
denkst du dir aus, was dir am Leben fehlt.
Die Nerven knistern. Wenn wir das doch haetten,
was uns, weil es nicht da ist, leise quaelt.
Du praeparierst dir im Gedankengange
das, was du willst-und nachher kriegst das nie...
Man moechte immer eine grosse, Lange
und dann bekommt man eine kleine Dicke . . .
C´est la vie


Em noite tranquila e cama de monogamia,
tu estás pensando, no que te falta nesta vida.
Os Nervos estalam. Ai, se tivessemos tudo,
o que, por não estar ai, nos tortura por dentro.
E preparas para ti no pensamento
aquilo que queres - mas nunca o consegues
Queremos sempre uma alta, magra
e depois ficamos com uma baixinha e gorda . . .
C´est la vie


Antonio Machado.

"No extraiñes, dulces amigos
que esté mi frente arrugada;
yo vivo en paz con los hombres
y en guerra con mis entrañas."

"Não estranhem, doces amigos
esta minha face enrugada;
eu vivo em paz com os homens
e em guerra com as minhas entranhas."

sábado, 3 de janeiro de 2009

Mar adentro*




Mar adentro,
mar adentro.
Y en la ingravidez del fondo
donde se cumplen los sueños
se juntan dos voluntades
para cumplir un deseo.

Un beso enciende la vida
con un relámpago y un trueno
y en una metamorfosis
mi cuerpo no es ya mi cuerpo,
es como penetrar al centro del universo.

El abrazo más pueril
y el más puro de los besos
hasta vernos reducidos
en un único deseo.

Tu mirada y mi mirada
como un eco repitiendo, sin palabras
'más adentro', 'más adentro'
hasta el más allá del todo
por la sangre y por los huesos.

Pero me despierto siempre
y siempre quiero estar muerto,
para seguir con mi boca
enredada en tus cabellos.


Mar adentro, mar adentro
E na ingravidade do fundo
Onde se cumprem os sonhos
Juntam-se duas vontades
Para cumprir um desejo.

Um beijo acende a vida
Como um relâmpago e um trovão
E numa metamorfose
O meu corpo já não é o meu corpo
É como penetrar no centro do Universo.

O abraço mais pueril
E o mais puro dos beijos
Até ver-nos reduzidos
Num único desejo

O teu olhar no meu olhar
É como um eco repetindo sem palavras:
"Mais adentro, mais adentro"
Até mais além do todo
Pelo sangue e pelos ossos

Mas acordo sempre
E sempre quero estar morto
Para continuar com a minha boca
Enredada nos teus cabelos.


*Poema de Ramón Sampedro
Recitado por Javier Bardem no filme "Mar Adentro' (2004)

Lost





Chorus


I'm just lost
Estou apenas perdido

Every river that I tried to cross
Todos os rios que tentei atravessar

Every door that I tried was locked
Cada porta que tentei abrir estava trancada

I'm waiting till the shine wears off
Estou à espera que o brilho se apague

La Turgescence de l'autoroute A4.

"Ceux qui viennent et ceux qui s’en vont
ne savent rien
sur la turgescence de l’autoroute A4.
Sur son odeur sauvage – de vieille putain
dont les yeux ont la couleur
de l’alcool médicinal –
odeur dans laquelle lévitent les routiers, le cou tordu,
et, comme une lèpre divine,
le niveau de vie.
Ils croient que la ville s’étend devant eux,
sa tête tranchée ricane sur le pare-brise.

(Mais ils ne voient pas, sur l’asphalte,
les hérons partir timidement à l’aveuglette,
s’acharner à faire sortir les sous coincés
dans le juke-box votif de la mort.)

Aux pompes, les recrues de l’essence rasent
les têtes des octanes.
Ils donnent un visage au coucher du soleil.
Ouvrent de leur couteau les jointures de la porte
et leur cou glisse sur la lame d’acier.

Et ceux qui s’en vont et ceux qui viennent
ne savent rien
sur la turgescence de l’autoroute A4.
Ils vivent un simple effet de tunnel."

Linda Maria Baros.

"Aqueles que vêm e aqueles que vão
nada sabem
sobre a turgência da auto-estrada A4.
Sobre o seu odor selvagem - de velha prostituta
cujos olhos são da cor
do álcool medicinal -
odor no qual levitam os camionistas, obstinados,
e que, como uma lepra divina,
eleva o nível de vida.
Acreditam que a cidade se espraia perante eles,
de cabeças cortadas sobre o pára-brisas.

(Mas eles não vêem, sobre o asfalto,
as garças partir, tímidas, no escuro,
como se tentassem retirar as moedas presas
na jukebox votiva da morte.)

Nas bombas, os recrutas do petróleo cortam
as cabeças das melhores octanas.
Dão um rosto ao pôr-do-sol.
Abrem com a sua faca as juntas da porta
e o seu pescoço desliza sobre uma lâmina de aço.

E aqueles que vão e aqueles que vêm
nada sabem
sobre a turgência da auto-estrada A4.
Passam por ela, como um simples túnel.

Post 0.

Para quem recebeu o mail e se está a perguntar o porquê, e como isto está tudo num estado muito embrionário, pensei que podia ser interessante se publicássemos poemas, músicas ou mesmo divagações de qualquer tipo, somente com a condição que estivessem sempre em duas Línguas, das 5 que compõem o nosso curso. Daí nasce este blog com a ideia simples de aperfeiçoarmos e polirmos as nossas capacidades linguísticas.

Se quiserem façam as alterações que acharem que se ajustam, tentem é manter sempre mais ou menos o mesmo tipo de letra e apresentação, a partir daí.

Obrigado a todos por terem aceite o convite.