quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Não Podes Ter tudo - Barbara Ras

Não Podes Ter tudo

Mas podes ter a figueira e as suas folhas gordas como mãos de palhaço
Enluvadas de verde. Podes ter o toque de um único dedo de alguém de 11 anos
Na tua bochecha, acordando-te à uma da manhã para dizer que o hamster voltou.
Podes ter o ronronar do gato e o olhar cheio de alma
Do cão preto, o olhar que diz, Se eu pudesse morderia
Todas as mágoas até que fugissem, e quando é Agosto
Podes tê-lo, Agosto, e de modo abundante. Podes ter amor,
Embora, frequentemente vá ser misterioso, como a espuma branca
Que borbulha no cimo do pote de feijões em cima do feijão vermelho
Até que te apercebas que o gémeo da espuma é o sangue.
Podes ter a pele no centro entre as pernas de um homem,
Tão sólida, tão como uma boneca. Podes ter a vida da mente
Brilhando ocasionalmente em vestimentas de padre, nunca admitindo mesquinhez,
Nunca se rebaixando para subornar o guarda mal-humorado que te dirá
Que todas as estradas estreitam na fronteira.
Podes falar numa língua estrangeira, ás vezes,
E pode significar algo. Podes visitar a placa no túmulo
Onde o teu pai chorou abertamente. Não podes trazer os mortos de volta,
Mas podes ter as palavras perdoar e esquecer de mão dada
Como se quisessem passar uma vida juntas. E podes estar grata
Pela maquilhagem, a maneira como te beija a face, metade especiaria, metade amnésia, grata
Por Mozart, as suas muitas notas correndo umas contra as outras, de encontro à alegria, por toalhas
Sugando as gotas na tua pele limpa, e por sedes profundas,
Pelo maracujá, pela saliva. Podes ter o sonho,
O sonho do Egipto, os cavalos do Egipto e tu a cavalgares na areia quente.
Podes ter o teu avô sentado na beira da tua cama,
Ao menos por um bocado, podes ter as nuvens e as cartas, o saltar
De distâncias, e comida Indiana com molho amarelo como o nascer do sol.
Não podes contar com a sorte para te escolher do meio da multidão
Mas aqui está a tua amiga para te ensinar como saltar alto,
Como te atirares sobre a barra, de costas,
Até que aprendas sobre o amor, sobre a doce rendição,
E aqui estão pervincas, autocarros que se ajoelham, campos na mente
Tão reais como África. E quando a idade adulta te falhar,
Ainda podes mandar regressar a memória do cisne preto no lago
Da tua infância, o pão de centeio com manteiga de amendoim e bananas
Que a tua avó te dava enquanto o resto da família dormia.
Há uma voz que podes mandar voltar quando quiseres, como a da tua mãe,
Irá sempre sussurrar, não podes ter tudo,
Mas há isto.

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